Miguel Milhão acha que não sabemos nada, porque saíram do país 8 mil milhões em dividendos, mas entraram 13 mil milhões de Investimento Direto Estrangeiro (IDE), em 2024, considerando, aparentemente, a saída a contrapartida automática da entrada. Este fulano sabe captar apoios públicos aos milhões, enquanto regurgita harmonias económicas.
Enfim, o Investimento Direto Estrangeiro é bom ou é mau? Depende, como muitas coisas na economia.
Note-se previamente que o IDE não abarca todos os fluxos de capitais estrangeiros, mas geralmente o investimento que implica o controlo de mais de 10% de uma empresa já existente ou a criação de uma nova empresa, geralmente filial da estrangeira, no território nacional.
Não abarca fluxos mais impacientes, ditos de carteira, geralmente de mais curto prazo, que tantas crises financeiras têm gerado desde a liberalização financeira, iniciada nos anos 1980, felizmente longe de ser universal por esse mundo afora.
Os países que se desenvolveram, como a China, sempre dissuadiram os fluxos de curto prazo, mantendo controlos de capitais, e atraíram IDE, mas geralmente fixando condições de reinvestimento dos lucros, de transferência tecnológica, de parcerias com empresas nacionais ou de compras no mercado interno.
Entretanto, se o IDE for para a economia do tijolo e do rentismo fundiário (3,5 mil milhões foram para o imobiliário, em 2024, no nosso país), do turismo e de outros setores estruturalmente pouco produtivos, não é grande coisa. Neste caso, o IDE pode bem fazer parte de um círculo vicioso por quebrar.
Se for para controlar antigas empresas públicas, da banca à energia, passando por infraestruturas públicas, geradoras de poder e logo de superlucros (há quem fale de rendas), então o IDE é péssimo. Muito do IDE tem ido para aí. Demasiados dividendos enviados para o exterior têm aí origem. Esta é uma das críticas às privatizações, mas sobre isto os liberais naturalmente não falam. Para os vende-pátrias, tanto dá. É como se fosse tudo igual.
Se o IDE servir para criar capacidade produtiva adicional, com alguma transferência tecnológica, pode ser positivo, desde que se encaixe numa estratégia de desenvolvimento que não gere dependência excessiva. Haja planeamento, até porque não é tudo igual.
Na economia mista que se defende nas presentes circunstâncias históricas, a resposta é mesmo muitas vezes: depende. Os que que captam milhões de recursos públicos sabem disso, mas a sua economia é como a sua política, ou não fossem inseparáveis: predadora.